Hoje vejo que estou mais perdida do que sempre estive. Tavez me conheça mais, mas perdi muito da essência que tanto apreciava. Solidão. Como sinto sua falta, não a falta de tua presença, mas de saber apreciar-te. Preciso ganhar as ruas, e andar sozinha, ouvindo somente os conselhos do vento gelado. É preciso recuperar a calma e a paz que tinha outrora, pois se não, a vida jamais terá o mesmo sabor.
Desejaria não ter cometido certos erros, para poder cometer outros. Os caminhos, embora confiáveis, nem sempre são os corretos para um andarilho errante.Desejo, mais uma vez voltar ao que era antes, pois sempre residi nas lembranças.
É noite alta. Naquele momento nem os carros patrulham as ruas, há uma mistura de medo e cansaço entre os sobreviventes.Mas, não há tempo a perder.Nunca houve. Do jeito que estava ela se levanta da cadeira dura, na qual passa as noites, entre insônia e pesadelos. O jeans azul desbotado parece sua segunda pele de tão justo.Nos pés um sapato fechado, de amarrar, dos mais delicados, azul turquesa.O busto é ajeitado delicadamente dentro de uma blusa amarela, apagada, de finas alças.
Ela retira de um cabide o casaco preto fino, veste e fecha-o.Cobre os belos cabelos ruivos, cor de sangue com o capuz, e torçe para que sua pele branca, quase fluorescênte não chame muita atenção.Seus olhos de um azul esverdeado, pálido se adaptam melhor à noite do ao dia.Na rua, seu coração se acelera.O caminho é longo.
Anda, hora como quem teme um perseguidor, ora como quem esqueceu o próprio caminho e vaga sem rumo, à procura de uma pista.
A respiração começa a ficar ofegante, e longas nuvens de fumaça forman-se em sua boca.O ar que entra em seus pulmões frágeis parece não ser suficiente.Finalmente ela sai daquele lugar onde só há sujeira, podridão e concreto. Conseguiu passar ilesa pela fresta aberta na grande muralha que salva a todos, prendendo-os.Ela passa, sorrateira, como o sangue por uma ferida.E então, até que a dor apareça, ninguém saberá que ela se foi.
Pois há muito, a sociedade não presta a devida atenção em quem deveria.As conversas foram esquecidas. As regras mudaram.O único problema é que ninguém avisou aos outros seres viventes. Como se a vida, fosse um mero detalhe.
Ela corre agora, com mais cuidado.Sabe que existem criaturas mais poderosas e menos racionais observando-a.Mas, ela não teme.Sente estar sob algum tipo de proteção, e confia em seus instintos.
Quando a luz do sol começa a surgir ela para.Cansada. Ofegante. Com um leve sorriso, mas com o coração pesado, cheio de uma tristeza imensurável. A jovem, então, se aproxima do portão, que se abre automaticamente, da mesma forma que a porta da pequena casa.
Cautelosamente observa ao seu redor.As grades grossas do portão e a cerca por cima dele.O pequeno bosque ao seu lado direito, os degraus de pedra gastos.A varanda agradável e empoeirada pela falta de uso.As janelas sujas, como por temerem revelar sua interior.O assoalho brilhante range quando seus pés se unem, parando, enfim.
A porta atrás de si se fecha com cuidado, para não assustar seu mais novo morador.
E então, os eventos recomeçam...
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